Cyberbullying contra professores
ORGANIZAÇÃO: Antônio A. S. Zuin.
Dilemas da autoridade dos educadores na era da concentração dispersa.
O livro “Cyberbullying contra professores: dilemas da autoridade dos educadores na era da concentração dispersa”, que está sendo lançado pela editora Loyola, oferece reflexões importantes à compreensão e ao enfrentamento de problemas cruciais no cenário atual da Educação, como a prática da violência de alunos contra seus professores e as dificuldades em conseguir a concentração de estudantes de diferentes idades em uma determinada temática que está sendo abordada em sala de aula. A obra é fruto de pesquisas realizadas desde 2008 por Antônio Álvaro Soares Zuin, docente do Departamento de Educação (DEd) da UFSCar, incluindo um período na Universidade de York, na Inglaterra.
As pesquisas realizadas têm nas transformações históricas na autoridade do professor um foco importante e, assim, o primeiro capítulo do livro é dedicado justamente à análise do conceito de autoridade ao longo do tempo, desde a Antiguidade greco-romana, em diálogo com autores como Hannah Arendt, Agostinho, Tomás de Aquino, Comênio, Johann Friedrich Herbart, Rousseau, John Dewey e Skinner, dentre outros. Em seguida, Zuin dedica um capítulo à definição do conceito de cyberbullying, destacando a particularidade da permanência do cyberbullying em relação ao bullying. “Em relação ao bullying, é consenso que não se trata de agressões isoladas e/ou esporádicas, mas sim da repetição de um comportamento. No entanto, no cyberbullying, a repetição não é necessária: uma vez publicada uma imagem depreciativa na Internet, ela estará lá para sempre, sendo replicada e, muitas vezes, tornando-se viral”, explica o pesquisador que, no livro, destaca como essa permanência pode, inclusive, aumentar ainda mais o sofrimento da vítima da agressão.
Além dessas reflexões teóricas, o autor apresenta e analisa seis vídeos de cyberbullying, sendo três brasileiros e três de outros países – Portugal, Estados Unidos e Inglaterra. A partir da análise de todo esse material, Zuin propõe o conceito de “concentração dispersa” para compreender como, em uma realidade em que as telas são onipresentes e o acesso à informação pode existir em qualquer lugar e a qualquer momento, a atenção nunca permanece fixa em um ponto por mais de alguns segundos e a capacidade de concentração é tão radicalmente transformada a ponto da dispersão tornar-se parte da sua constituição. O pesquisador destaca, de um lado, como essa configuração mina a autoridade do professor, já que as informações, antes concentradas em sua figura, agora podem ser obtidas mais rapidamente em uma busca no Google. De outro, defende que essa “autoridade da tecnologia” pode estar no cerne da violência de alunos contra professores. “O professor, historicamente, é a figura responsável por manter os alunos concentrados em uma determinada informação, e pela disciplina. Atualmente, porém, essa concentração é dolorosa, fica cada vez mais insuportável ler um livro ou qualquer texto um pouco maior. O prazer está nas telas – principalmente do celular – e, por isso, a agressão é voltada justamente àquele que obriga à concentração”, resume.
Nesse cenário, como ressignificar o papel do professor? A profissão está fadada ao desaparecimento? Não necessariamente, defende Zuin. “No livro, eu concluo defendendo que professores e alunos podem estar não um contra o outro, mas juntos no uso das novas tecnologias, com o professor atuando como um mediador de relações conceituais, já que o simples acesso às informações não garante o processo formativo. É preciso estabelecer relações entre essas informações e o professor pode ser a figura que estimula o estabelecimento dessas relações; novas relações conceituais e pessoais e novas formas de aprendizagem”, conclui o pesquisador.
EDITORA: Loyola
ANO: 2018